quarta-feira, 26 de maio de 2010

Infância no Acre II

Texto do livro: Aventuras e Receitas de Ligia Azevedo

Na minha memória, os dois dias mais felizes do ano, esperados com meses de ansiedade, eram o do aniversário e do Natal para todas as crianças do clã dos Alencar que viviam no Acre, porque só nesses dias ganhávamos presentes. Até hoje lembro da minha dor ao descobrir que Papai Noel não existia. Foi quando, brincando de bonecas, fui procurar alguma coisa e olhei por baixo do guarda-roupa e vi os pés da cama de bonecas, que pedi a Papai Noel por carta escrita pelo meu pai, naturalmente. Fiquei quieta, magoada e com vergonha de dizer para eles, os adultos, que sabia que eles mentiam também. Com certeza me questionei: “se eles mentem, por que eu tenho que apanhar quando minto?”

Acho que quando a gente descobre que Papai Noel não existe, começa a deixar de ser criança. Comparando a minha infância com a das crianças de hoje, agradeço a Deus ter me soltado de pára-quedas no Acre onde, por falta de luz, telefone, cinema, jornal, carro e todos os outros meios de comunicação que ainda nem existiam no Brasil, a civilização não havia chegado.

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